A vida de todos vem acompanhada de sofrimentos, isso é inevitável (em pequenas doses até saudável), mas isso não é suficiente para determinar a necessidade de ajuda. Há casos de dependência química, de transtornos causados no decorrer do desenvolvimento, sintomas específicos que demandam diretamente a procura por tratamentos. Mas os sintomas não procuram ajuda sozinhos, são manifestações de algo não está legal e movimenta o sujeito em busca dela.
Um sujeito que enxerga a necessidade e consegue pedir ajuda, já apresenta grande sinal de salubridade psíquica. Indica que foi capaz de perceber e se autodiagnosticar com alguma forma de sofrimento, e já conseguimos identificar um pequeno passo no processo da cura. Ao terapeuta cabe a interpretação do movimento realizado pelo sujeito como um pequeno desejo de transformação. Antigos filósofos já diziam que era difícil suportar a ideia de ser libertado pelo outro, pois isso indica de alguma maneira, passividade e as vezes fraqueza, pois não significaria uma liberdade verdadeira por tratar-se de uma liberdade adquirida pelas mãos de alguém que não seja ele próprio, o que deve ser superado e ressignificado, afinal, como em tudo mais que temos pela vida, todos passamos por muitos problemas que nos tornam autônomos com os outros e não sem eles. Mas isso não é suficiente para quando um sintoma se torna insuportável, ao ponto da necessidade do sujeito de um tratamento.
Os verdadeiros sintomas se definem por duas razões específicas de relações que mantemos com o que fazemos. Há sintomas baseados na forma "ter que", ex. "acordo todos os dias muito cedo, me exercito, me apronto e saio para trabalhar", pode ser algo ruim para alguns, ou bom para outros, mas de alguma forma "suportável" de se fazer. Mas alguém pode dizer "acordo todos os dias muito cedo, me exercito, me apronto e saio para trabalhar", mas com um grande sentimento de angustia, pois acredita que se não o fizer, "algo muito ruim acontecerá", como até sofrer consequências em sua saúde e corpo, ao ponto de levá-lo a óbito. Acontece aqui um recobrimento de um "comportamento aceitável" por uma disposição patológica "obrigando-a a fazer".
Claro que há diversas manisfestações apresentadas diariamente na vida do sujeito, pequenos detalhes, grandes sintomas, mas é necessário de alguma maneira um olhar aumentado em direção de si próprio, para percepção de que algo "diferente" está acontecendo consigo, com seus pensamentos e sentimentos, e então reconhecer a necessidade de se buscar ajuda psicológica, mesmo que em forma de apoio para tomada de pequenas decisões, como de grandes passos.