Todos nós ficamos com raiva vez ou outra. Talvez aquele seu colega de trabalho esteja coberto de razão de estar morto de ódio por ter perdido todo o dia de trabalho porque o computador simplesmente pifou antes de ele ter salvado o relatório. Mas, o que dizer daquele amigo ou conhecido que parece viver à beira do limite, que esperneia, xinga, quebra coisas e se descontrola por qualquer razão?
Será que ele teria apenas o “pavio curto” ou algo a mais? Ataques de raiva repetitivos e desproporcionais aos motivos que serviram de provocação podem ser sinais do Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), um tipo de Transtorno de Controle de Impulsos (TCIs). O TEI se caracteriza por episódios graves e isolados de agressividade de forma desproporcional aos eventos que os desencadearam. Em geral, são precedidos de um fator estressante e seguidos de profundo arrependimento.
TEI atinge 3 em cada 10 brasileiros
Mas, atenção: alguns dias de fúria não são suficientes para que se constate que alguém tem este transtorno. Os critérios para o diagnóstico, entretanto, ainda são motivo de debate. Alguns especialistas acreditam que a especificação de um número de ataques por ano – hoje é de três episódios em 12 meses – não é suficiente para delimitar o problema. Até a classificação da OMS parece apontar que não há critérios totalmente definidos.
Estimativas dão conta de que no Brasil, 3 em cada 10 brasileiros é portador do transtorno. No mundo, os levantamentos apontam para a mesma taxa de prevalência, embora muitos estudiosos afirmem que como o TEI tende a ser subdiagnosticado, esse número seria bem maior.
A origem da fúria
Embora os sintomas sejam bastante visíveis e perceptíveis, ainda não se chegou às causas. O mais provável é que seja uma combinação de fatores biológicos e emocionais. Sabe-se, por exemplo, que pessoas com histórico familiar de dependência química ou desordens do humor têm maior predisposição para desenvolver esse transtorno. Crianças criadas em ambientes disfuncionais também – por exemplo, pai ou mãe alcoólatras ou violentos.
Um dos estudos mais recentes a respeito, sugere que haveria uma ligação entre dois marcadores de inflamação – a proteína C reativa e a interleucina 6 – e impulsos agressivos. A pesquisa, entretanto, acompanhou um grupo bastante pequeno. Foram apenas 200 pessoas. Outras teorias apontam para alterações em neurotransmissores como a serotonina, hormônio ligado à sensação de prazer.
Depois da raiva, a culpa
Os ataques geralmente são seguidos de culpa e remorso e não raro, os pacientes acabam por ser acometidos por depressão, ansiedade e podem abusar de álcool ou de outras substâncias. Assim como outros distúrbios do impulso, o TEI traz inúmeros prejuízos ao paciente e às pessoas que o cercam. A desordem pode levar ao fim de casamentos, à perda de empregos, à suspensão da escola ou universidade, entre outros. Durante a vida, o prejuízo material para o paciente chegaria a quase US$ 1.500 (ou aproximadamente R$ 4.500) só em destruição de propriedade própria ou alheia.
Procurar ajuda é fundamental
O primeiro passo é reconhecer a frequência e a intensidade desses ataques. O ideal é procurar um psiquiatra e também iniciar uma psicoterapia, que pode ser a abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), amplamente usada para a TEI, com resultados favoráveis, principalmente no controle da agressividade. É importante entender que esse transtorno causa enormes prejuízos sociais, profissionais e acadêmicos. Por isso, quanto antes for diagnosticado e tratado, melhor.